desumanidades
Imagine-se uma certa repartição de actividade privada ou pública tanto faz. Nove mulheres.A chefe,bem como a maioria na casa dos trinta.Licenciadas em áreas como a psicologia, a sociologia, a assistência social...
Há no entanto uma que se afasta um pouco da média de idades e habilitações.Faltam-lhe 5 anos para a reforma, vive de há 3 anos a esta parte entre o serviço e a sala de quimioterapia do IPO.
Com a chegada do calor, esta senhora devido ao estado da sua doença, sofre de alguns efeitos secundários, por vezes dolorosos. O braço esquerdo incha e a pele adquire tonalidades anormais, sente-se muito mal com o sol.Os médicos desaconselharam vivamente toda e qualquer exposição solar.
Durante as suas férias, as colegas aproveitam para fazer algumas mudanças nos gabinetes. Escolhe cada uma o melhor que pode para si. Colocam a secretária dela, debaixo duma clarabóia onde o sol, sobretudo a partir das 2 da tarde incide fortemente.Assim mesmo!Sem a consultar, sem atender à sua limitação provocada pela doença, sem tentar por uma única vez que fosse, ter um gesto de humanidade para quem se encontra a lutar pela vida.
Revoltou-se com mais um gesto de uma profunda injustiça a juntar a tantos outros pelos quais passou nos últimos tempos. Ganhou coragem e foi falar com a sua chefe, invocando que não achava correcto o que continuavam a fazer com ela.
Ouviu da mesma unicamente a seguinte frase :
- Que é que quer que lhe faça? ALGUÉM tinha que ficar ao sol!
.........................................................
Estas como tantas outras situações não chegam às noticias.Mas são infelizmente mais habituais do que se possa imaginar. Por essas e por outras é que de vez em quando carrego no Off e desligo da Humanidade ...
Comments
Talvez um dia a chefe dessa senhora tenha também de visitar o IPO (desculpa, mas é o que me saiu mesmo, de rajada).
Beijo
Depois de ler isto e apesar de um pouco tardiamente, não me contive e senti que devia dizer algo:
Pois lamento dizer que não é necessário imaginar! De facto este cenário é bem mais frequente no nosso dia a dia. E o mais triste e que de facto me aflige é que esta desnumaindade é generalizada!
Não sei se sou eu que sou retrógrada (já me acusaram de não evoluir e de estar agarrada a hábitos e conceitos ultrapassados)mas hoje em dia é vulgar observarmos afectos entre animais e actos animalescos nos humanos. Parece que o mundo está do avesso.
A solução não será "desligar" ou "emigrar", mas tb o faço, a fim de tentar manter alguma sanidade mental.
Tudo de bom. Gostei daqui
Cpts