Ternura

Pequena maravilha, recordada numa colectânea de textos infantis,coligidos por Maria Rosa Colaço, intitulado " A Criança e a Vida ", que a autora recolheu e guardou, aquando a sua passagem como professora, numa escola situada " num velho primeiro andar, de uma rua suja de sal, pregões e humidade".

Numa pequena introdução,lembra as palavras do então director « este é o seu reino e aqui tem os seus "meninos" ».

"Se tiver sarilhos- há-de tê-los, mas não estranhe!-, a esquadra da polícia fica no fim da rua...Tem de escolher desde o princípio: ou a senhora ou eles! Sem complacências, se quiser sobreviver.Lamento dar-lhe a escória mas, aqui, é o que temos.Paciência"...

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« Olhei-os em silêncio.Um por um.Longamente... A fome de ternura era neles como o sol, a chuva e o desconforto. E como éramos primários, pobres e sozinhos, estabelecemos desde aquela hora um entendimento lúcido e discreto. E foi assim que ficámos solidários e Amigos-para-sempre. »

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A 1ª edição deste livro,antes de Abril de 74, foi recolhida pela pide, que considerava o livro "incómodo". Na mesma introdução, a autora revela-nos ainda:

... " a miséria transforma as crianças, mais que os adultos, em anjos implacáveis de lucidez, e a fome incendeia-os e faz-lhes crescer nos olhos brancas e terríveis asas de sonho ou destruição. E há nesses anjos de fogo uma voz oculta e violenta em que é preciso, é urgente meditarmos. Ela pode denunciar, construir ou semear, a alegria, a vergonha ou o remorço.

Ela pode ser a semente da Esperança, da Paz entre os Homens."

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