Grandes Portugueses

Grandes portugueses são os nossos emigrantes




Manuel, Serrão, Empresário
A União Europeia quase que já retirou conteúdo à palavra emigrante. As migrações entre Portugal e os restantes países da UE ou outros aparentados como a Suíça (e já vão ver por que é que eu destaco o país dos chocolates e dos relógios) estão transformadas praticamente em viagens na nossa terra.Para muitos (e mais dia menos dia, para as estatísticas oficiais), mudar a vida de Viseu para Lisboa ou de Lamego para a Suíça, não vai receber tratamento diferenciado.A nossa entrada para este suposto "clube dos ricos" também fez inverter lentamente os fluxos das migrações.
À medida que foram deixando entrar neste clube europeu candidatos a ricos ainda mais pobres do que nós, parece que passou a fazer mais sentido reparar nos estrangeiros que nos invadiram do que nos portugueses que continuaram a sair.Para além deste novo enfoque, a emigração tornou-se uma palavra aparentemente exclusiva dos pobres. Só os mais desfavorecidos é que emigram. Quando um quadro superior troca a sua empresa do Porto ou de Lisboa por um emprego numa multinacional com sede em Madrid ou Londres, ninguém lhe chama emigrante. Quando muito, é mais um português de sucesso que saiu do país porque Portugal era pequeno para o seu talento
Graças aos esforços dos meus progenitores, foi no início dos anos 70, ainda muito novo, que viajei em turismo ou formação por vários países europeus incluindo a Suíça e, repito, já lá chegaremos, agora sem sair do Porto e destas páginas.Por razões variadas, tive vários contactos com os emigrantes portugueses de então e recordo-me muito bem do seu perfil habitual, dos sacrifícios que faziam para se aguentar lá fora nas condições em que tinham escolhido viver e da forma como eram vistos cá e lá. E de como viviam lá em função do que deixavam cá.
Trinta anos depois, o tempo de uma geração, agora a convite da TVI e da Chivas Regal (passe a publicidade) voltei à Suíça. Nas minhas previsões, constava apenas uma nova experiência, o golfe na neve, que era o que integrava o cardápio da viagem. Afinal, para além do prazer desta prática desconhecida, a outra alegria que trouxe da St. Moritz foi o reencontro com os portugueses que lá trabalham por todo o lado, mas a quem já tenho dificuldade em chamar emigrantes.
Por todas as razões já aduzidas e também por outra questão fundamental os principais visados não se revêem nesta terminologia.Os emigrantes era dantes. Entre os jovens com quem bebi um chá numa esplanada do centro desta estância de luxo Suíça (completamente cheia apesar dos 5 graus negativos - aprendam portugueses!) e os emigrantes com quem me cruzei há 30 anos, qualquer semelhança só pode ser uma infeliz coincidência.
Estes rapazes de que vos falo, bem apresentados e bem falantes, a gastar os seus francos suíços em dia de folga, já não vendem a sua qualidade de vida ou a sua dignidade no pacote do contrato profissional.Por acaso, este grupo trabalha na Suíça sazonalmente, mas não notei grandes diferenças entre eles e os gerentes de um dos restaurantes onde fomos, o Steinbock, ou o chefe dos porteiros do hotel Kempinsky, o segundo mais poderoso de St. Moritz, a seguir ao Palace.
A título de curiosidade, posso dizer-vos que hoje só por puro acaso é que não é português o director deste hotel Palace, a quem o proprietário, um velhinho suíço sem família próxima, acaba de doar a unidade que tem um valor estimado em 200 milhões de euros.O gosto pelo trabalho em vez do sacrifício do espírito. A plena integração na vida social em vez da reclusão no tugúrio. O Francês ou o Inglês razoáveis em vez do "françuguês" ou do "portunhol".
A capacidade de negociar a força e qualidade do trabalho na mais completa legalidade, em vez da venda de horas intermináveis sustentada por contratos duvidosos. O objectivo claro do bem-estar individual em vez da preocupação obsessiva com a remessa para a terrinha.É por isto e muito mais que hoje, quando nos cruzamos com um compatriota a trabalhar no estrangeiro, é muito mais fácil conhecer uma estória de sucesso de uma pessoa feliz do que tropeçar em mais um drama nacional mais o seu choradinho habitual.

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